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Candidatos escreveram sobre valorização da herança africana, abordando racismo estrutural, descolonização, resquícios pós-escravidão e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano apresenta um tema de redação bastante pertinente e atual: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Proposto pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o tema é visto como uma ótima oportunidade para os alunos demonstrarem suas habilidades textuais e refletirem sobre a realidade brasileira.
De acordo com professores ouvidos pela Agência Brasil, o tema da prova do Enem permite que os estudantes explorem suas competências linguísticas e discutam questões importantes relacionadas à herança africana no Brasil. A valorização da herança africana é um tema fundamental para a compreensão da identidade brasileira. Além disso, a reflexão sobre os desafios enfrentados pela comunidade afro-brasileira é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Professora de redação do SEB, em Brasília, Analu Vargas afirma que o tema escolhido “propõe reflexão acerca do funcionamento da sociedade”.
Enem 2022: Valorização da herança africana é tema de redação
A coordenadora e professora de redação do PB Colégio e Curso em São Paulo, Juliana Rettich, destaca que o Enem, com suas temáticas de redação, tem um caráter pedagógico importante para a sociedade brasileira. Ela acredita que o Inep acertou novamente ao propor um tema que pode se transformar em pauta para reportagens de diferentes veículos de comunicação.
‘É fundamental valorizar a herança da cultura africana, que é uma das matrizes culturais do Brasil. Isso abre espaço para abordar também o preconceito e o racismo, que é um crime, e tratar de processos que chamamos de resquícios pós-escravidão‘, afirma Juliana.
Descolonização e decolonialidade
Juliana explica que, nas suas aulas de redação, trabalha a partir da perspectiva da descolonização e da decolonialidade, discutindo a problemática dos currículos eurocentrados nas escolas e nas universidades. ‘Diante disso, o nosso primeiro desafio é combater o epistemicídio, o assassinato do conhecimento, história e cultura produzidos pelos povos africanos e afrodiaspóricos’, aponta a docente.
Racismo estrutural
A coordenadora de redação e professora do Colégio Etapa, em São Paulo, Nayara de Barros, destaca que há vários tópicos a serem explorados no tema do Enem. ‘Os estudantes poderiam tratar do debate racial que tem havido no campo da educação. O próprio conceito de racismo estrutural poderia ser mencionado, em relação ao racismo como parte da estrutura social, um sistema que se manifesta nas relações políticas, econômicas e jurídicas’, afirma Nayara.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
O colega de trabalho de Nayara no Etapa, Luiz Carlos Dias, acrescenta que o assunto da redação também diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Segundo ele, o ODS 18 ‘prima pela igualdade étnico-racial’. ‘Então, para que haja a valorização da cultura africana, temos que entender que os povos africanos são marginalizados historicamente no Brasil, desde o mercado de escravizados’, afirma o professor.
Preparação dos estudantes
Para Hagda Vasconcelos, professora do Colégio Galois, em Brasília, o tema ‘não surpreendeu’ porque é uma ‘problemática persistente’ no Brasil. ‘O Enem é uma prova muito democrática. É uma prova que coloca em questão aquilo que é necessário ser discutido’, afirma Hagda. Na avaliação dela, os estudantes brasileiros estão preparados. ‘Nós temos de trabalhar a educação antirracista. Valorizar o personagem negro. Valorizar o cientista negro. Eu acredito que os meninos estão bem preparados, bem embasados para produzir esse texto’, diz Hagda, considerando o conteúdo ensinado de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
‘Eu gostei muito do tema. É muito apropriado. É um tema que ampara as nossas discussões’, avalia Gilmar Félix.
Fonte: @ Sergipe Notícias