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Volta do ‘dealmaker’ à Casa Branca é saudada por Israel, mas recebe ‘indiferença’ do Eixo da Resistência, que se opõe aos Acordos de Abraão e aos planos para um Estado palestino no Golfo Pérsico.
Com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, o Oriente Médio está prestes a viver um novo capítulo de tensões e incertezas. Enquanto Israel e Egito, aliados históricos dos Estados Unidos, comemoraram a futura volta de Trump à Casa Branca, o Catar, Irã e outros membros do autoproclamado ‘Eixo de Resistência’ – que se opõe aos Estados Unidos e Israel, sob liderança iraniana – comunicaram diplomaticamente sua ‘indiferença política’.
Certos observadores políticos não têm a menor dúvida de que o presidente eleito está decidido a continuar tratando das políticas para a Região do Médio Oriente do seu jeito peculiar. A reeleição de Trump pode repercutir forte no Oriente Médio, especialmente em relação às políticas de segurança e economia. Além disso, a relação entre os Estados Unidos e o Irã pode se tornar ainda mais tensa, o que pode afetar a estabilidade da Região.
Política Externa de Trump no Oriente Médio
O presidente americano, Donald Trump, é conhecido por sua abordagem única na política externa, especialmente no Oriente Médio. Como especialista em Oriente Médio e Norte da África, Neil Quilliam, do think tank londrino Chatham House, comenta: ‘Trump gosta de se apresentar como um grande mediador de acordos, um dealmaker. Ele vai querer continuar onde parou.’
Segundo Quilliam, Trump tem três planos políticos principais para a região: primeiro, resolver os conflitos de Israel com o Hamas na Faixa de Gaza e com o Hezbollah no Líbano. No entanto, esses objetivos estão relacionados ao segundo plano de Trump para o Oriente Médio, que é estabelecer uma administração para Gaza e potencialmente criar um Estado palestino.
Os Acordos de Abraão e a Normalização com Israel
Trump também pretende dar nova vida aos Acordos de Abraão e aumentar o número de nações que normalizaram suas relações com Israel. A Arábia Saudita é seu alvo principal, mas Riad resistirá, a menos que Trump se comprometa com um projeto de longo prazo de criar um Estado palestino. Os Acordos de Abraão foram uma série de pactos entre Estados árabes e Tel Aviv, cuja mediação pelos EUA começou durante o primeiro mandato de Trump.
Em 2020 e 2021, os israelenses normalizaram relações diplomáticas com Marrocos, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Sudão. A Arábia Saudita também estava prestes a dar esse passo em 2023, mas as negociações ficaram congeladas a partir dos ataques terroristas do 7 de Outubro, pelo Hamas contra Israel, os quais desencadearam a guerra em Gaza e, no ano seguinte, o conflito com o Hezbollah no Líbano.
Desafios para Trump no Oriente Médio
Para a especialista em análise de risco geopolítico e segurança no Oriente Médio, Burcu Ozcelik, do Royal United Services Institute, Trump vai tentar projetar poder americano e demonstrar sua ‘vantagem distintiva’ de mediador, mas ‘muito provavelmente descobrirá que o desafio é muito maior agora, no Oriente Médio pós-7 de Outubro’.
A guerra em Gaza e os milhares de civis palestinos e libaneses mortos nas atuais campanhas militares israelenses esfriaram o entusiasmo pelos EUA nos Emirados Árabes, afirmou, num comentário recente, Kristin Smith Diwan, pesquisadora chefe do Arab Gulf States Institute, de Washington.
A Personalidade de Trump como Trunfo
No entanto, é possível que a personalidade de Trump vire a maré, quando ele ocupar a Casa Branca, em janeiro. A popularidade de Trump junto a muitos árabes do Golfo deriva não só da política externa dele, mas também da sua persona: sua projeção de força e disposição para ‘dizer as coisas como elas são’.
O analista egípcio Ashraf El-Ashari, conta ‘testemunhar mais prosperidade entre Trump e os países árabes como Egito, Arábia Saudita, Emirados e Jordânia, devido à química política entre ele e os dirigentes árabes’. Essa ‘química política’, entretanto, não se estende ao Eixo de Resistência, que inclui o Irã, o Hezbollah e o Hamas.
Fonte: @ Band UOL