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Derrubada do premiê Michel Barnier causa segunda crise política em três meses. Presidente francês busca cumprir mandato até 2027, mas sem maioria, seu poder é limitado. Governo técnico pode ser formado caso acordo de não censura seja rejeitado.
O presidente da França, Emmanuel Macron, iniciou os contatos para formar um novo governo, um dia depois de a Assembleia Nacional ter votado uma moção de censura para derrubar o Poder Executivo de Michel Barnier. Essa foi a segunda crise política na França em um período de seis meses, colocando em xeque a estabilidade do país.
O primeiro-ministro Michel Barnier se reuniu com o presidente francês durante uma hora no Palácio do Eliseu, ocasião em que teve de apresentar oficialmente sua demissão, embora esta ainda não tenha sido confirmada pela sede presidencial. A reunião ocorreu um dia depois de deputados de esquerda e da ultradireita se unirem para derrubar o governo do primeiro-ministro francês, que assumiu o cargo há menos de 100 dias. O governo enfrentou oposição devido ao uso de um mecanismo constitucional para contornar o Parlamento e forçar a aprovação de uma lei orçamentária impopular. A administração de Michel Barnier tentou reduzir o déficit estatal francês com uma corte de 60 bilhões de euros, mas essa medida foi amplamente rejeitada. Para que as moções fossem aprovadas, eram necessários o voto de pelo menos 289 dos 577 deputados.
Governo Francês em Crise
A moção de censura apresentada pela esquerda foi aprovada com 331 votos, colocando o governo francês em uma situação delicada. Embora a censura não acarrete diretamente a queda do presidente Emmanuel Macron, cujo mandato termina em 2027, ele agora enfrenta o desafio de nomear um novo primeiro-ministro sem recorrer a novas eleições legislativas.
Macron havia escolhido o conservador Michel Barnier como premiê em setembro, com o objetivo de garantir a estabilidade, após as eleições legislativas que ele antecipou como reação à vitória da extrema direita francesa nas eleições para o Parlamento Europeu. No entanto, as eleições deixaram a Assembleia Nacional (câmara baixa) sem maiorias claras e dividida em três blocos irreconciliáveis: esquerda, centro-direita e ultradireita.
De acordo com a Constituição francesa, Macron não pode convocar novas eleições até julho próximo. Isso deixa pouca margem de manobra para o governo. Embora não haja nada que impeça Macron de reconduzir Barnier, o próprio Barnier descartou essa possibilidade, afirmando que não há objetivo em reconduzi-lo ao cargo de primeiro-ministro.
Entre os nomes ventilados para suceder Barnier estão o atual ministro da Defesa francês, Sébastien Lecornu, e o aliado centrista de Macron François Bayrou, além do ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve ou do atual ministro do Interior, Bruno Retailleau.
A nomeação de Barnier em setembro foi possível graças ao acordo entre o partido conservador Os Republicanos (LR) e a aliança centrista que está no poder desde 2017. No entanto, o líder do LR, Laurent Wauquiez, assegurou a seus deputados que o acordo em setembro só vale para Barnier, insinuando que devem ocorrer novas discussões para seu apoio a um governo.
Acordo de Não Censura
Faltando dois anos e meio para a próxima eleição presidencial, para a qual Macron não pode se candidatar, os partidos estão buscando se dissociar do legado de um presidente impopular, mas tentando não parecer responsáveis pela crise atual. O antecessor de Barnier, o macronista Gabriel Attal, defendeu um ‘acordo de não censura’ com o LR e também com o Partido Socialista, que faz parte da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP).
O governo que surgiria desse pacto incluiria ministros da aliança de Macron, de acordo com Attal, e poderia evitar que sua sobrevivência dependesse do grupo da ultradireitista Marine Le Pen. Alguns membros mais à direita da coalizão governista defenderiam, em vez disso, um ‘pacto’ secreto entre o chefe de Estado e Le Pen, para que ela permitisse a sobrevivência de um novo governo.
A candidata esquerdista, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, pode desempenhar um papel importante na formação do novo governo. No entanto, é importante notar que a situação política em França é complexa e pode levar a uma série de desdobramentos.
Em resumo, o governo francês está em crise após a moção de censura ser aprovada, e Macron precisa nomear um novo primeiro-ministro sem recorrer a novas eleições legislativas. A situação é delicada, e os partidos estão buscando se dissociar do legado de um presidente impopular. O acordo de não censura pode ser uma saída, mas é importante observar a evolução da situação política em França.
Fonte: @ Band UOL