ouça este conteúdo
Avaliação é de analistas do Centro Brasileiro de Relações Internacionais entrevistados pela Agência Brasil sobre a declaração oficial de organização do tratado no sistema internacional.
Após dois anos de impasse no G20, a declaração do grupo, que se reuniu no Rio de Janeiro sob a presidência do Brasil nesta segunda-feira (18), tem sido considerada por especialistas como uma grande vitória da diplomacia brasileira ao unir, em um mesmo documento, países como Estados Unidos (EUA), Rússia, China, Argentina e Alemanha, demonstrando o poder do multilateralismo em superar divergências e promover a cooperação internacional.
A declaração final do G20 representa um marco importante no cenário geopolítico atual, onde o multilateralismo é frequentemente desafiado pelo unilateralismo e pelo bilateralismo. A capacidade do Brasil em reunir países com interesses e visões tão divergentes em um documento comum é um testemunho da força da cooperação internacional e da importância de manter diálogos abertos e respeitosos entre as nações. A presidência brasileira do G20 mostrou que, mesmo em tempos de grande polarização, é possível encontrar terreno comum e avançar em direção a soluções conjuntas para os desafios globais.
Análise de especialistas sobre o multilateralismo no G20
Além disso, analistas avaliam que o consenso em torno de 85 pontos na declaração oficial dos chefes do G20 em um mundo dividido por guerras e intensas disputas geopolíticas pode ser visto como uma vitória do multilateralismo, que é o princípio da cooperação entre países para promover interesses comuns. É um princípio oposto ao do unilateralismo, quando o país age por conta própria, ou do bilateralismo, quando há associação de apenas dois países.
O especialista em geopolítica Ronaldo Carmona, pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), destacou que o mundo hoje está absolutamente dividido entre dois blocos principais, um formado pelo G7 e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que reúne as potências ocidentais e o Japão, e do outro lado os países que emergiram na economia mundial nas últimas décadas, em especial, China, Rússia e Índia, com o Brics sendo o principal fórum desse grupo.
Contexto do G20 e a crise do multilateralismo
Observando esse contexto, desse problema estrutural de crise do multilateralismo, é preciso valorizar o fato de ter saído uma declaração final, sobretudo em função dessa radicalização que a gente vive agora no que diz respeito ao problema da guerra na Ucrânia’, comentou o especialista, lembrando que os Estados Unidos autorizaram no domingo (17) o uso de mísseis de longo alcance contra o território russo.
Carmona acrescentou que o G20 é o único espaço em que esses dois polos de poder no sistema internacional ainda conseguem sentar-se à mesma mesa. ‘O multilateralismo está em crise já há bastante tempo e, portanto, qualquer arranjo multilateral tem a tendência de ser pouco efetivo. Por isso, o consenso em uma declaração final é uma vitória da presidência do Brasil no G20’, destacou o pesquisador.
Declaração final e a posição da Argentina
O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes destacou que a declaração não foi reaberta para mudanças no texto como queria a Argentina, mostrando que o presidente Javier Milei preferiu se unir ao conjunto de países para não ficar isolado.
‘Se o Milei mantivesse os vetos dele à declaração, ele não estaria se opondo apenas ao Brasil, ele estaria se opondo ao G20. Por quê? Porque na reunião de líderes, você tem o Biden, o Xi Jinping. A persuasão de Milei não partiu apenas do Brasil, mas de outros líderes, que colocaram pressão, dizendo, olha e aí? Você está aqui, nós estamos aqui colocando esses temas e não vamos fugir de nenhum deles’, afirmou, acrescentando que Milei ainda precisava do palco do G20 para se apresentar ao mundo.
‘Milei ainda não havia se apresentado ao mundo, e fez isso agora no Brasil.’ O professor acrescentou ainda que o Brasil pautar a questão social, o combate à pobreza e à fome no G20 foi uma importante vitória, mas que o resultado é mais um recado do conjunto dos países à necessidade do multilateralismo no mundo, princípio que sofrerá oposição do governo de Donald Trump.
Fonte: @ F5 News