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Modelo de negócio de big techs alimenta a desordem informacional, enfraquecendo a democracia. Integridade da informação qualifica o debate público, demandando combate à desinformação sistemática através da regulação democrática e da alfabetização midiática.
No início do ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou planos para interromper o financiamento de pesquisas em torno do combate à desinformação, argumentando que sob a justificativa de combater a desinformação, esconde-se uma censura esquerdista ao pensamento conservador.
Essa medida suscita preocupações, pois a desinformação e as notícias falsas têm impactos significativos na sociedade, influenciando a opinião pública e as decisões políticas. É crucial abordar esses temas com seriedade, reconhecendo a importância de uma informação precisa e a necessidade de combater a desinformação de maneira eficaz, sem comprometer a liberdade de expressão. É fundamental que haja um esforço contínuo para promover a transparência e a veracidade nas informações, como um mecanismo de defesa contra a propagação de informações falsas.
Desinformação: uma ameaça à sociedade e à democracia
Com o bilionário Elon Musk, dono da plataforma X (ex-Twitter), compartilhando da mesma opinião, o risco de aumento da desordem informacional nos próximos anos é alarmante. Além disso, os proprietários de outras plataformas digitais, embora de forma menos dramática, também são resistentes a medidas regulatórias, mesmo que sejam democráticas, o que torna o cenário ainda mais sombrio. A desinformação e o discurso de ódio têm causado danos significativos à sociedade e à natureza.
Hoje, a questão mais grave relacionada ao tema no Brasil é a revelação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, concebida por militares de alta patente e pelo ex-presidente da República. A trama envolvia manobras jurídicas e tentativas de assassinato de autoridades, mas a desinformação esteve na base da trama ao buscar confundir e angariar apoio junto à opinião pública, formadores de opinião e militares em benefício do golpe. Antes disso, o mesmo grupo lançou dúvidas sobre a lisura das urnas eletrônicas sem provas.
Combate à desinformação: uma luta global e local
A partir de 2019, laboratórios e grupos de pesquisa acadêmicos dedicados ao estudo da desinformação, junto a empresas de fact-checking e entidades da sociedade civil, formaram a Rede Nacional de Combate à Desinformação, que hoje engloba 209 parcerias e mais de mil pessoas atuando em várias frentes: estudos científicos sobre integridade da informação; debates na academia e em espaços da sociedade civil e do governo; defesa da regulação democrática das plataformas; ações de checagem de fatos; práticas de educação midiática e informacional, de norte a sul do Brasil.
A nova coordenação à frente da Rede busca novas conexões no Brasil e no exterior, comprometidas com as mesmas agendas. A articulação global e local é importante, pois o problema é mundial e agindo de forma conjunta, é possível articular formas mais eficientes de combatê-lo.
Soluções para o combate à desinformação
O modelo de negócio das big techs, aliadas a agentes políticos que utilizam a desinformação sistemática e estrategicamente, é um dos principais problemas. É preciso falar claramente sobre esses interesses na esfera do debate público. A solução é consensual entre todos os envolvidos no combate à desinformação: promoção de jornalismo sério e plural; alfabetização midiática e informacional em larga escala; regulação democrática das plataformas digitais. Isso não significa censura.
A desinformação torna-se criminosa quando o mau uso da liberdade de expressão fere outros direitos igualmente protegidos por lei ou ameaça a democracia. A regulação deve ser entendida como um Código de Trânsito, onde não se trata de tolher a liberdade de se dirigir um carro a 250 km por hora numa pista de corridas, mas de se respeitar os sinais de trânsito numa rua com escolas. Trata-se de atualizar parâmetros legais já existentes para a era digital.
Fonte: @ Folha UOL