Disparada na Bolsa não está relacionada à preocupação ambiental.
É inegável que os investimentos sustentáveis precisam ganhar espaço no mercado financeiro, mas posso apostar que a recente valorização de uma ‘ação verde’ na nossa Bolsa não tem qualquer relação com responsabilidade ambiental.
A compra de ações de empresas que promovem a sustentabilidade tem sido uma tendência crescente, no entanto, a verdadeira motivação por trás dessa ação muitas vezes está mais relacionada à busca por lucro do que à preocupação com o meio ambiente. A venda de ações de empresas que não atendem aos padrões de sustentabilidade também é uma forma de pressionar essas empresas a mudarem suas práticas, mas não é a única forma de investimento responsável.
Ambipar: o caso da ação que subiu mais de 3.000% em menos de seis meses
A empresa de gestão de resíduos, soluções ecológicas e sustentabilidade, Ambipar, viu suas ações (AMBP3) subirem mais de 3.000% em menos de seis meses. Ela é uma das ‘novatas’ na Bolsa, tendo chegado ao mercado em 2020, na última ‘janela’ de IPOs (ofertas iniciais de ação). A Ambipar levantou R$ 1,08 bilhão no IPO e, pouco mais de um ano após a estreia, sua ação mais do que dobrou de preço, chegando a R$ 70.
Depois desse pico, as ações desciam a ladeira e, em junho deste ano, eram negociadas a R$ 8. Na época, analistas de investimento acreditavam que era barato. O time do BTG Pactual, por exemplo, recomendou a compra, com o preço-alvo de R$ 21, apontando que a empresa estava reduzindo seu endividamento e entregando bons resultados.
O mistério da alta nas ações da Ambipar
O que aconteceu daí em diante é um mistério, até que haja uma investigação de verdade por autoridades competentes e transparência sobre seus resultados. As ações dispararam em um ritmo que espanta até os fãs de punk rock ou os habituados a investir em criptomoedas. De 12 de junho a 12 de agosto, foram mais de 1.000% de ganho, indo dos R$ 8 para os R$ 90. Até 13 de dezembro, voaram até a casa dos R$ 260.
A realidade briga com a cartilha, pois não houve mudança nos números ou no funcionamento da empresa que justificasse a decolagem. Acontece que, em julho, o fundador da empresa, Tércio Borlenghi Junior, aumentou sua fatia da empresa, comprando 7% das ações e chegando a deter 73% dos papéis. Depois, a gestora de fundos Trustee DTVM também foi às compras e embolsou cerca de 15% das ações.
A disputa de titãs e os preços inflados
A fome dos gigantes fez os preços dispararem, mas a verdade é que ‘sobraram’ para os investidores negociarem na Bolsa pouco mais de 10% das ações, com preços inflados, não por algum fundamento, mas por uma disputa ou atuação conjunta de titãs. A empresa já foi questionada mais de uma vez pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre a real razão da escalada de preços, mas limitou-se a dizer que ninguém sabe de nada.
Quem estava fora da panelinha e se animou com a sequência de altas hoje pode estar a ver navios. O investimento verde parece ter amadurecido de maneira artificial, deixando no ar o cheiro azedo de que se tornou impróprio para consumo. Nos últimos sete dias, os preços das ações da Ambipar caíram mais de 20%, deixando muitos investidores com prejuízos.
Fonte: @ Folha UOL