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Taxa de juros atingiu o nível mais alto desde setembro de 2023, impactando o dia a dia dos brasileiros e das empresas. O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais analisa o tema.
É preciso discutir a taxa de juros, não é mesmo? Ela atingiu o patamar mais elevado desde setembro de 2023 e agora está em 13,2%, com uma expectativa de que ultrapasse 15% ainda este ano. Isso interfere de forma clara na rotina dos brasileiros e das empresas que operam no nosso país.
Para entender melhor como essa alta na taxa de juros interfere no mercado, conversamos com Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. Ele destaca que a alta taxa de juros afeta diretamente o custo do dinheiro para as empresas, tornando-as menos competitivas. Além disso, a elevada taxa impacta a capacidade de investimento das empresas, o que pode afetar a economia como um todo. Com uma taxa de juros mais alta, os juros sobre empréstimos também aumentam, o que pode levar a uma diminuição do consumo e do investimento.
Análise da Taxa de Juros no Brasil
Flávio, uma ótima tarde para você, obrigado pela participação. Boa tarde, João. Prazer estar aqui com vocês. Prazer é nosso. Primeiro queria entender como que a Federação, como você pessoalmente também, enxergaram essa alta que já era prevista. É verdade, mas como que enxergam essa alta e o futuro, o que vem pela frente aqui no Brasil?
A alta ela já tava sendo esperada não somente por nós, mas por boa parte do mercado financeiro. Porque ela foi anunciada previamente, né, nas reuniões anteriores. O que nós vemos é com muita apreensão esse ciclo de alta de taxa de juros no Brasil, já que ela já está no patamar elevado comparado aos pares internacionais. Na nossa leitura, o aumento é muito mais de efeito psicológico para acalmar os mercados do que efetivamente necessário no combate à inflação.
Porque a taxa de 1 ou de 14 ou de 15 já tem a propensão do combate inflação, né? Ela já é uma taxa suficientemente alta para fazer a retração econômica, colocar em curso o que na verdade está tendo um efeito agora, um efeito muito mais psicológico de dizer pros atores do mercado financeiro que o banco central está no comando, né? Na nossa leitura, o que seria muito mais eficiente e destruiria muito menos riqueza para a sociedade seria efetivamente um corte de gastos por parte do governo.
É justamente essa expansão do gasto público que tá gerando esse mar revolto, né, e é esse o problema. Só a taxa de juros não vai resolver; ela pode minimizar no curto prazo, acalmar o mercado, mas daqui a pouco o mercado vai olhar a trajetória da dívida pública, vai ver a sua expansão explosiva e vai começar a questionar. Ória, e infelizmente, em algum momento, nós vamos questionar também o mercado irá questionar a capacidade do Brasil de arcar com esses dispêndios e de cumprir suas obrigações da dívida.
Então, nós temos que fazer algo muito rápido para reverter esse quadro para que a economia real também sinta menos. Você citou, né, a importância do Brasil passar um recado de que pode arcar com as suas obrigações, inclusive pro cenário exterior. Tem uma questão importante que é a questão da dívida, né, tão falada, a dívida e também o consumo dos brasileiros, que é importante, claro, como em qualquer país, mas que pode fazer acelerar a inflação, que ainda não está dentro do controle.
Não à toa o banco central aumentando os juros e ontem nós tivemos o anúncio de hoje, inclusive comemorado pelo presidente Lula, sobre um acordo sendo fechado para novos empréstimos consignados a parte da população brasileira, descontando não apenas do da folha de pagamento, mas também do FGTS em parte, ou seja, mais dinheiro pode ir pra mão dos brasileiros e consequentemente mais consumo pode acontecer e aumentar a inflação, aumentar os juros.
Possivelmente você enxerga como esse cenário, positivo ou negativo? Foi algo bastante comemorado pelo governo, são sinais contraditórios, né. Por um lado, quer dizer a política, eh, de gasto público, política expansionista, quer dizer principalmente focada no consumo e também nos programas de assistência social, isso gera uma expansão do consumo e consequentemente gera uma inflação, eh, e do outro lado, eh, o banco central tendo que aumentar a taxa de juros para provocar uma retração, eh, na economia para reduzir a taxa de inflação.
Então, seria muito mais simples se ambos atores públicos, né, trabalhassem na mesma direção e que direção seria essa, redução do gasto público, eh, para que a turbulência do mercado acabasse e a trajetória de inflação voltasse numa normalidade. E aí, posteriormente a isso, efetivamente, a gente poderia intensificar as ações que aumentem aí, eh, a nossa, o ritmo da nossa economia com na expansão do consumo, mas o melhor mesmo seria com base no investimento.
É que o investimento, aquilo, o investimento, a expansão da economia baseada no investimento, é que garante que não haja um surto inflacionário pós a expansão, porque o investimento ele foca na oferta, não é só no consumo, ele é dirigido pelo aumento do consumo, mas ao investir, você garante oferta futura e infelizmente o aumento da taxa de juro vai inibir o quê, oferta futura, vai inibir investimento, tem um efeito retra assonal na economia no curto prazo.
Mas se você continua expandindo aí o consumo, você talvez não tenha o efeito esperado sobre a inflação, porque você tem duas forças em direções antagônicas. E todas duas custam muito pros cofres públicos ou seja, custam muito pro conjunto da sociedade. Quando a gente tem uma taxa de juros, né, mais alta, isso claro inibe né o crédito e também bem acaba inibindo investimentos, enquanto se tenta coibir que a inflação siga num processo de alta.
E a gente tá falando aqui, claro, sobre a Federação, uma das mais importantes…
Fonte: ©️ Band Jornalismo